CAPA

Editorial | Dazibao Nº1

大 [da] um homem de braços abertos;
字 [zi] um bebe/criança/filho abrigado sob um telhado;
報 [bao] uma mão castigando um homem ajoelhado acorrentado.

1966 - Cara de Cavalo assassinado, Jornal do Brasil, 1964

O Museu Hélio Oiticica. Um mausoléu admirável #1

por Gustavo Motta
“A crise da crítica é apenas uma das manifestações da geral e profunda crise da sociedade. Há um pseudo-consenso generalizado. A palavra revolucionário se tornou um slogan publicitário – como as palavras criação e imaginação. Alguns anos atrás isso se chamava cooptação. Os críticos têm traído seu papel crítico. E há uma grande cumplicidade por parte do público, que está longe de ser inocente neste caso.”

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Monólogo

por Tiago Santinho
B: A simulação da catástrofe ou o eterno adiamento da crise.
D: Estranha época em que temos a reconciliação fraterna da arte e da política mediada pelo êxtase econômico.
B: Um monólogo a partir da vertigem sobre tanta superfície.
D: No fundo do fundo de tanta saúde não encontramos a morte como o Nosso Adorno nos disse. (…)

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Medio, Monitoro, Valorizo

por Guilherme Leite Cunha
De uma cena de Godard partiria uma pergunta. De um ruído dissonante de Varèse, talvez uma sugestão. E de uma improvisação de um bailarino da Judson Church surgiria, alinhado a uma contextualização, a instigação de possíveis sentimentos – tudo de acordo com as atuais diretrizes arte/educativas: deve se provocar, questionar, suscitar a reflexão, contextualizar um pouco… Mas sem explicar, deve-se encontrar um certo “estar entre”. Talvez pareça (ainda) inconcebível imaginar a existência de um profissional que durante um filme ou uma peça musical discutiria conosco o impacto artístico provocado, contudo, se tratarmos de obras visuais, isso já se localiza no terreno da normalidade. Hélio, Lygia, Tunga, hoje em dia, todos se expõe acompanhados. Os artistas mais novos, os “contemporâneos”, não se imaginam sem eles: o proletariado do setor educativo.

01 Dec 1982, Brasilia, Brazil --- Brasilia: Pres. Ronald Reagan and Pres. Joao Figueredo toast each other after a state dinner at the Brazilian Foreign Ministry in Brasilia 12/1. It was during this toast that Pres. Reagan referred to his host country as "Bolivia" and corrected himself by saying that is the country he will visit. --- Image by © Bettmann/CORBIS

O segredo do segredo no “Segredo de seus olhos”

por Bruno G. Braga
(((There is no future in E. dreamland)))
O filme “O segredo de seus olhos” é carregado. Sua trama está embebida numa tensão não verbalizada, cuja expressão limite é a cena da moça seviciada, que vem à tona já nos primeiros minutos de fita. Na história, o promotor público aposentado, Espósito, tenta escrever um romance sobre o caso de uma jovem professora, na Buenos Aires dos anos 70, estuprada e morta em seu apartamento. Em meio à agitação que antecede o golpe militar argentino, Espósito e seu colega Sandoval lutam para esclarecer o caso e prender o criminoso. Porém, o que a investigação do protagonista tem a nos revelar é muito pouco (e mesmo a conclusão mirabolante, com seu sadismo bom-moço, não vem nos entregar nada, pelo contrário). Assim, o que devemos fazer é seguir algumas pistas em paralelo, exatamente as que o investigador deixa passar, pra podermos enxergar a teia de relações que reflete a Argentina daquele tempo, alvo de uma brutal mutilação. (…)

nazi firing

Virada Cultural: a cultura entre o deserto e a enchente

por Leonardo França
Na ausência de uma crítica e, sobretudo, de uma crítica materialista ao fenômeno das chamadas Viradas Culturais – que surgiram no Brasil em 2004 com as comemorações dos 450 anos da cidade e agora se espalham pelo país como estratégia hegemônica para a cultura – todas as lutas que vem sendo travadas pelos movimentos de artistas e produtores por políticas públicas para a cultura tendem a ficar ainda mais fragilizadas. É necessário colocar na ordem do dia essa pauta delicada e rever, de imediato, o aparato conceitual que ela evoca. (…)

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A Arte da Guerra

por Eyal Weizman
O ataque conduzido por unidades das Forças de Defesa Israelenses (em inglês Israeli Defence Forces, ou IDF) na cidade de Nablus em abril de 2002 foi descrito por seu comandante, Brigadeiro-General Aviv Kokhavi como “geometria inversa”, que ele explicou se tratar de uma “reorganização da sintaxe urbana por meio de uma série de ações micro-táticas”. Durante a batalha soldados moveram-se dentro da cidade através de centenas de metros de “túneis sobre-terraneos” cavados dentro de estruturas urbanas densas e contíguas. Apesar de alguns milhares de soldados e guerrilheiros palestinos estarem manobrando simultaneamente na cidade, os israelenses estavam tão “saturados” na malha urbana que poucos poderiam ter sido vistos do ar. Além disso, eles não usaram nenhuma das ruas, vias, becos ou qualquer parte externa, escadaria ou janela da cidade, mas sim moveram-se horizontalmente através das paredes e verticalmente por buracos abertos nos tetos e pisos. Essa forma de movimento, descrita pelos militares como “infestação”, busca redefinir o dentro como fora, e interiores domésticos como passagens. A estratégia da IDF de “andar através das paredes” envolve a concepção da cidade não simplesmente como local, mas também meio da guerra — um meio flexível, quase líquido, que é sempre contingente e em fluxo.

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“A teoria não combina com o sofá”

por Pablo Helguera