Dazibao suplica

Niterói- O incêndio do GRAN-CIRCUS Norte Americano1961

Como todos sabem, o maior problema de se fazer uma revista de crítica é que é quase impossível conseguir textos, resenhas, entrevistas e similares que escapem ao peleguismo-baba-ovismo-lambe-botismo-zé-maneísmo-paga-jabá reinante no meio das artes. Assim sendo, se você tiver ou souber de algo legal que não se enquadre nisso, entra lá no site da revista, pega nosso email e nos escreva. Analisaremos sua proposta e, se tudo der certo, a publicaremos mais cedo ou mais tarde aqui.
Caso você seja daqueles que precisa de um pontapé temático pra começar a escrever, a seguir apresentamos algumas sugestões de temas sobre os quais adoraríamos publicar uns artigos malucos tipo “faca nos dentes”.

Edital de cultura no mundo sem crédito
E agora, José? O bem-bom dos editais público-privados a rodo, que sustentou uma galera nos últimos tempos, produzindo todo tipo de atividade (publicação, trabalho de arte, projeto pedagógico, mesa de debate, revista de crítica e o escambau), acabou. Fora o fato de que o ajuste fiscal pra turma da cultura vai ferrar geral (e “geral” no Brasil quer dizer os happy few que conseguiram alguma coisa na época das vacas gordas do crédito público e do trabalho precarizado), o impressionante é que ainda não teve reflexão decente sobre a função dos editais na formataçãoformação da cultura contemporânea, no alto e no baixo escalão. Faltam descrições literário-sociológicas das peculiares figuras que habitaram o mundo da arte nos últimos dez anos em subfunções terceirizadas: orientadores de fluxo, produtores culturais, monitores de exposição, curadores independentes, cenógrafos/expógrafos, visagistas, empresas produtoras de eventos tipo Arte3 ou Base7 (e sua fissura por numerais indoarábicos) e um grande e longo etc. Enfim, um tema ideal para fracassomaníacosfrankfurtianos em geral, que terão uma oportunidade ímpar de remoer todas as contradições imanentes do progressismo reformista na cultura.

Livro de colorir: fascismo e participação do espectador
Saca quando vemos aqueles videos fofos de bebês tentando usar um livro como se fosse um tablet? Não dá pra não pensar que o touch screen de celulares, iPhones e o diabo-a-quatro é hoje algo de muito maior do que o clique do mouse foi pros anos 90 (incluindo aí a incidência de lesões por esforço repetitivo e doenças neuro-cognitivas). O lance é o seguinte: e se a moda do livro de colorir for o complemento necessário (AKA o “pólo dialético”) do touch screen enquanto experiência modelo da corporalidade na vida contemporânea? E se ela for uma das manifestações mais didaticamente obscenas da experiência do fascismo enquanto a alienação dos sentidos? E se ela for o ponto máximo da alienação estética enquanto forma de contemplação prazeirosa de sua própria destruição? E por último, mas não menos importante, o que a Lygia Clark e o Isis teriam a ver com isso?

O assassinato como uma das belas artes
Em tempos de decapitações no YouTube e de mortes “cirúrgicas” realizadas por drones, é meio óbvio o interesse de ressuscitar este verdadeiro clássico de Thomas De Quincey. Historiadores modernistas: taí, de mão beijada, um argumento que reúne A obra de arte desconhecida de Balzac, os assassinatos de Whitechapel, a semana sangrenta da repressão à Comuna de Paris, os corpos femininos cortados pela metade nos cantos das telas de Manet, a decupagem do corpo humano no primeiro cinema, o espaço visual estripado no cubismo analítico. Críticos pós-estruturalistas, neomarxistas e anarquistas em geral: dá pra entender o apelo estético do Isis? O que fundamentalistas islâmicos, narcotraficantes mexicanos e videoartistas de todo o mundo tem em comum? Quais as implicações simbólicas do suicídio de Mario Monicelli?

Edemar Cid Ferreira, parte 2
E já que o assunto é crime, tem uma bomba: achamos o sujeito que escreveu tudo que alguém precisa saber sobre o caso Edemar! Por coincidência é o juiz do caso, sr. Fausto de Sanctis. Daí que falta alguém que se aventure pelas tortuosas veredas do juridiquês e faça uma resenha clara e cristalina do livro Lavagem de Dinheiro Por Meio de Obras de Arte.

O feminismo radical encontra o cinema
Hum, tá bom, Hollywood faz um blockbuster boicotado por associações machistas (!) pela simples razão de que a verdadeira protagonista do filme é uma mulher, e, na contramão, ele é aclamado como um filme feminista (com ou sem aspas, à escolha do freguês). Daí o novo Star Wars é boicotado por associações racistas (!) porque o novo Jedi é um homem negro (ou uma mulher branca, especulam os melhores sites nerds). Hollywood se converteu às minorias? A pergunta é evidentemente idiota, mas o cenário se complica um bocado quando notamos que numa galáxia cinematográfica muito distante, nas periferias-satélite de Brasília, um puta filme político de ficção científica é produzido na melhor tradição da quebrada, chegando com dois pés no peito na discussão sobre a relação entre exclusão racial e exclusão social no Brasil… sem uma única personagem feminina de relevo e com a pretensão de trazer a voz de toda a perifa. Em resumo, queremos um Celebrity Deathmatch: o novo Mad Max × Branco Sai, Preto Fica. Velhas formas com novo conteúdo × novas formas com velhos conteúdos.

A teoria queer encontra a pintura acadêmica
Manja o lance de que o Pedro Américo se pintava como mulher em vários dos quadros dele? Então.

A Arte de Montar arte
Montadore, uni-vos! E aproveitem para escrever um texto recheado de informações picantes e detalhes sórdidos sobre trabalhos ruins, quebrados e remontados aleatoriamente, que acabaram entrando para a história da arte; sobre os quadros abstratos que passarão a eternidade de ponta-cabeça em cima da lareira de uma mansão na Tijuca; sobre o site-specific que teve que mudar de lugar porque ele interrompia o feng-shui do flat; sobre as telas recortadas e as esculturas serradas pra caber exatamente na parede do living room. Taí a oportunidade pra gente começar a escrever tipo um Gombrich black-bloc dos rachadores do Grande Vidro.


 


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