Publicado no catálogo da exposição Vistas a Perder de Vista, curadoria de Claudio Cretti.
Ter uma imensa saudade sem objeto lá muito definível.
Dirigir-se às possibilidades de descrição dos fenômenos espaciais, virando-lhes as costas.
Ficar confuso numa mesa de bar com Francis Ponge.
Especificar o vago comum.
Ser ingênuo o suficiente a forçar a impossibilidade de muitas de nossas correspondências espaciais: olhar que pode atravessar o que é mais opaco, olhar que pode ir ainda mais longe assim que somos obrigados a estarmos muito perto.
Apontar e não dizer, poetizar para abolir a possibilidade da contradição.
O distanciamento do tema e do objeto é o exercício e seu pretexto.
Colecionar cartões postais artesanais, catálogos difusos (esparramados) cheios de regiões e atmosferas, com preguiça de seus sons e odores.
Transformar todas as distâncias em lugares.
Enclausurar todos os fenômenos em dois modelos: o verde para as formas irregulares e o azul para todas as outras.
Dar luz a estruturas ortogonais e organizações esquemáticas enquanto as nega em nome da intuição universal.
Elucidações inexatas.
Apregoar o não-pitoresco ao pitoresco e vice e versa.
Mostrar que o lugar tinha exatamente essa aparência demonstrando que tinha mais ou menos essa aparência.
Desencanar dos binóculos e dos telescópios.
Estar consciente que tudo é representação, e que toda representação é uma exteriorização do que queremos ter acesso.
E mesmo assim insistir em homenagear imagens que não comportam sua própria acessibilidade, representar até onde não chegaríamos.
Infidelidade à memória.
Buscar ver melhor se colocando em frente ao seu próprio campo de visão.
Repetir exaustivamente a mesma equação errada afim que de repente ela pareça exata.
Nunca saber, em todas essas situações e regiões, se é possível fazer isto ou aquilo.